sábado, 5 de janeiro de 2008

Transferência e contratransferência em sala de aula

Bem já era de se esperar que um professor não utilizasse a transferência e a contratransferência como instrumento de trabalho, como ocorre na psicanálise, mas os professores sem que percebam, são objetos da transferência de seus alunos e estes, objetos de contratransferência dos docentes.
Dentro de uma sala de aula, aprendizagens e conflitos muitas vezes acontecem em função desta representação atribuída ao outro. Não é a toa que ocorrem “ preferências” e que alguns alunos são amados ou não, por diferentes professores e vice-versa. É interessante perceber num conselho de classe que as opiniões divergem entre professores quando se referem à mesma turma que para uns é insuportável e para outros , dócil e amigável.Existem alunos que não conseguem aprender com determinado professor, mas com outro, da mesma disciplina, são capazes de brilhar em seu rendimento.Esta é uma questão polêmica e séria!
Muitos dos problemas da Educação são consequentes destes vínculos mal trabalhados dentro da escola , que normalmente não contam com profissionais que possam atuar nestas relações para solucioná-las.Nos setores de Orientação educacional a maior preocupação dos profissionais é com o rendimento de seus alunos e suas possíveis conseqüências : Reprovação, jubilação, evasão, etc... Não existem profissionais que se preocupam em avaliar ou diagnosticar os impasses que se criam nestas relações de amor e ódio: Quem representariam estes professores para seus alunos e quem seriam estes alunos para os seus professores?Toda a figura que representa autoridade para o aluno, sendo ele criança, jovem ou adulto, sempre será percebida de forma particular e individual. Normalmente são vivências do passado de cada indivíduo que “escolhe” o outro para depósito de sua demandas ou às vezes para conter os afetos do passado. Este é um dos maiores problemas que ocorrem nas salas de aula e que poucos se dão conta. Se todos fossem orientados e conscientizados , grandes problemas seriam evitados e a escola poderia se tornar o objeto do desejo de cada um de seus freqüentadores , transformando a aprendizagem em algo prazeroso para docentes e discentes.
Uma das razões de se considerar as avaliações de aprendizagem dos alunos como sendo arbitrárias, é pensar na possibilidade de serem reprovados alguns “gênios” que não se adaptaram à determinados professores ou à determinadas escolas.Uma reprovação poderá ser catastrófica para a auto- estima de uma criança ou de um jovem, que em razão deste resultado poderá desistir de lutar e dar continuidade aos seus estudos, ou passar a apresentar distúrbios de conduta, TDAH e outros. O status quo do professor estará assegurado e as crianças repetentes sempre serão as responsáveis por suas dificuldades.Mesmo que as razões do déficit sejam apenas de desadaptação ou de desencontros em suas relações com seus pares ou com o ambiente escolar. Muitas vezes do professor que não conseguiu transmitir seus conhecimentos.
Não podemos esquecer que é característica da idade, o questionamento, a ousadia, o desacato e outros comportamentos que deverão ser revertidos por adultos seguros e conscientes que não regridam e disputem com os mais novos como se assim fossem. Não podemos chamar de “aborrecentes”(termo pejorativo) e sim de juventude que quer testar os limites e a confiança nos adultos que um dia terão que ser. Estes limites deverão ser apresentados de forma educada e respeitosa para que eles sintam que tem referenciais .
A inteligência emocional aborda alguns aspectos que facilitam estas relações em sala de aula e de interessante leitura para os dedicados à profissão.
Importante ressaltar que estas observações são empíricas e que os dados foram colhidos durante vinte e cinco anos de dedicação , estudo e prática. Talvez possam servir de fontes científicas para os que se dedicam hoje , a esta área de estudo .
Salvar a Educação é tarefa de todos os que se dedicam à continuidade do nosso País.
Boa sorte!

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá, venho parabenizar seu trabalho e dedicação na educação está visível sua paixão e indignação perante a situação de como se dá e ocorre os fatores transferenciais, foi esclarecedor e decisório o seu texto sobre transferência, é meu título da tese de mestrado em psicanálise com concentração em educação.
Lhe agradeço pelo brilhante texto,
vou deixar meu título e email, se tiver mais textos ou materiais que possam me auxiliar, agradeço.


TÍTULO



Transferência e contratransferência em sala de aula: as implicações dos processos transferênciais, a partir de um enamoramento e um apaixonamento inconsciente entre educador e aluno para que ocorra a aprendizagem, como se dá este jogo e suas conseqüências, através de uma visão e escuta psicanalítica, uma via de acesso ao inconsciente.


Um abraço,
Aglayton Brandão


aglayton.psic@hotmail.com

Anônimo disse...

Olá, venho parabenizar seu trabalho e dedicação na educação está visível sua paixão e indignação perante a situação de como se dá e ocorre os fatores transferenciais, foi esclarecedor e decisório o seu texto sobre transferência, é meu título da tese de mestrado em psicanálise com concentração em educação.
Lhe agradeço pelo brilhante texto,
vou deixar meu título e email, se tiver mais textos ou materiais que possam me auxiliar, agradeço.


TÍTULO



Transferência e contratransferência em sala de aula: as implicações dos processos transferênciais, a partir de um enamoramento e um apaixonamento inconsciente entre educador e aluno para que ocorra a aprendizagem, como se dá este jogo e suas conseqüências, através de uma visão e escuta psicanalítica, uma via de acesso ao inconsciente.


Um abraço,
Aglayton Brandão


aglayton.psic@hotmail.com

Thay! disse...

“A transferência é um conjunto de sentimentos positivos ou negativos (...) que estão fundamentados nas experiências que o paciente teve em sua vida. Portanto, a característica da transferência é repetir padrões infantis num processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam na pessoa do analista”. (FREUD, 1916/1976).

Gostei muito do seu artigo!

Parabéns!

Unknown disse...

Miriam, muito bom.
Sou um médico ,professor de psicossomática, psicanálise, psicologia médica e bichos afins em duas escolas de medicina - Santa Casa e Un.Fed.ES - Fiz um mestrado em Educação sobre o tema "Aprender ou adoecer..... com estudantes somatizadores entre 0 3. 3 5. ano (Além do grupo controle de estudantes de Engenharia e Economia )Isso em 2002. Tenho tb a formação clássica em psiq psic. mas penso que estas duas psicanalise e psicologia médica são da área da Educação.
Não sei que vc conhece Eugenio Paes Campos que escreveu o livro "Quem cuida do cuidador...."
É meu amigo e companheiro de Psicossomática et e tal
Agora estou começando a trabalhar o tema da TRansferencia e Somatização - as bases teóricas em cuidadores médicos. Estamos apenas tentando achar a trilha para recorte de objeto...
Se quiser envio-lhe o texto a que me referi.
Prazer.

Paulo Bonates