terça-feira, 22 de abril de 2008

O caso Isabella

Uma notícia , um impacto e vários questionamentos: O inquérito está sendo bem conduzido ou um pai teria a coragem de matar friamente a sua filha?
Ultimamente casos semelhantes estão sendo noticiados com freqüência e nos questionamos se são fatos novos ou se sempre existiram e não foram tão divulgados. Atualmente as pessoas estão tão individualistas, que diante dos obstáculos são capazes de aniquilar com frieza, outras pessoas que ameaçam ou impedem suas metas, quase sempre materialistas, como num jogo de damas ou de xadrez em que uns eliminam os outros para atingirem seus objetivos.
Quando penso nestas cenas, que estão presentes nas telas do cinema se tornando cada vez mais reais ,questiono se o afeto está sendo colocado de lado e o racional está superando o emocional ou quem sabe vice-versa .
O que seria o racional e o emocional, no momento que alguém arremessa uma criança do sexto andar de um edifício num bairro nobre, como se fosse um boneco sem vida?
Seria excesso de emoção(descontrole) e falta de razão para limitá-la ou excesso de razão e falta de emoção pela frieza?
O que está acontecendo com os sentimentos humanos?
Estaria a censura , pouco presente nos dias atuais? Por que razão precisarmos de censura?
Percebo que a razão e a emoção têm que caminhar juntas.Isto nos diferencia dos animais irracionais.
Qual a origem da falta de humanidade, solidariedade, amor ao próximo e outras condutas que devem reconhecer no outro os mesmos direitos à vida, aos desejos, ao amor, aos pensamentos , às discordâncias e outros tantos , que não tenho como enumerá-los .
Estamos voltando ao primitivo por alguma razão que desconheço mas suponho: O interesse em sempre conquistar, vencer, ser reconhecido, ser o melhor, cria o conflito Eu- Outro. O outro que traz ameaça e desconforto, elimina-se, como um nada. Parece que atualmente aprendemos a "deletar" como computadores, como autômatos.
O respeito às diferenças e à convivência sadia estão deixando de existir .
A responsabilidade virou sinônimo de "caretice".
O que aconteceu ao casal Nardoni? Seria o mesmo que acontece nos casamentos entediados ?
Casamento envolve responsabilidades e o nascimento de filhos envolve abdicação e doação . Não seria uma função estritamente familiar , agregar pessoas com laços de parentesco? E estas famílias não estão cada vez mais esfaceladas? Os casamentos se desfazem ,quando desmoronam os sonhos infantis de felicidade eterna?
Quem responde por isto? os filhos responderão por estas decisões, das quais não participaram. Algum filho quer a separação dos pais? Eles são ouvidos? Nestes momentos , eles podem expressar seus sentimentos? A separação é democrática?
Quantas crianças se dividem em duas famílias e até em três, cada qual com irmãos de outros relacionamentos?
Quero deixar claro que não estou contrária às separações, mas aos casamentos irresponsáveis , que acham que tudo se encerra como nos contos de fadas.
Analisando a possível origem desta imaturidade que se confunde com modernidade,
temos hoje, uma juventude que se estende até aproximadamente aos 30 anos de idade e que não abre mão de sua liberdade, para se dedicar ao que se propôs quando escolheu uma união conjugal ou apenas estável. Quem seriam os responsáveis por esta infantilização extremada?
Não estou querendo comparações entre épocas atuais ou passadas. Estou propondo reflexões.
A Educação que nasceu nos lares de "tecnologia afetiva avançada" , estabelece que o importante é criar filhos independentes ,muito antes deles estarem preparados para alçarem vôos ao desconhecido. A angústia da separação, surge na criança sem que os pais percebam ,que pode estar havendo um sofrimento interno e intenso.
A necessidade destes mostrarem que seus filhos já estão independentes , capazes de viajarem sozinhos, de terem seu espaço,de decidirem por si mesmos, pode estar causando um "efeito colateral" sem que seus "responsáveis" percebam.
Quem é exageradamente independente na infância, pode não criar vínculos saudáveis porque aprendeu a viver por si: A viver no próprio mundo. Da mesma forma que estas crianças se tornaram independentes, quando adultas, não hão de querer filhos dependentes, porque as deixarão aprisionadas. Filhos, principalmente pequenos são dependentes de afetos básicos para criação de vínculos sadios. No entanto, os pais querem se desligar muito rápido e em conseqüência, estes também se vêem na obrigação de se desligarem com a mesma repidez , sem ainda terem criado a própria identidade .
Voltando a tragédia do cotidiano ,penso que Isabella não seja a única criança a ser eliminada , muitas outras são ainda antes de nascer, outras assim que nascem e muitas outras em "acidentes" que são mais tão perfeitos que nunca serão descobertos.Algumas desaparecem e nunca mais são encontradas.
Atualmente o que mais se busca é a liberdade e o que mais se distancia é a responsabilidade.
Virtudes e Ética não estão sendo estimuladas e ficam mascaradas com falsos moralismos.
Em minha opinião, uma das origens da desagregação familiar e do caos social , surge da ausência de referenciais .
Repensar a Educação desta " infância e adolescência" sem limites é fundamental .
A Mídia, a mãe substituta, com informações truncadas que só dificultam os cidadãos que ainda se interessam pelo conhecimento , já entraram na engrenagem das grandes produções e visam apenas o lucro Os filmes geradores de agressividade, terror, erotismo ,estimulam a banalização dos crimes. Os jogos virtuais que são companheiros das "crianças abandonadas" modelam o caráter doentio que estamos percebendo no novo Homem.
É preciso que a passividade não se estabeleça pelo medo cada vez mais declarado de sermos aniquilidos por um Poder covarde , tanto quanto fora a menina Isabella . A lei do mais forte e mais poderoso está prevalecendo, e enquanto isso , as vozes se calam ,por covardia e omissão.
Estamos retornando à Lei da Selva !
Lembremos que a vida não é um "Big Brother" onde se pode escolher a "vítima" que irá ao paredão.
Quem matou Isabella? Acredito que todos nós: Os tais Direitos Humanos .

2 comentários:

Unknown disse...

Míriam,

Sua inteligência e lucidez não me surpreendem porque o que vejo, e sinto agora, com seus textos brilhantes e oportunos, é o retrato do que sempre percebi em você, desde a infância: inteligência aguda, raciocínio brilhante, interesse pelo "outro", humanidade no seu ser. Parabéns pelo serviço que você presta com suas propostas de reflexão. O mundo precisa cada vez mais de seres como você. Que pensam, que instigam, que trazem à luz questões tão sérias e propõem, não só reflexão e debate, mas também incitam à tomada de responsabilidade e ao respeito ao próximo.
Neuza Santos

Profª Míriam Stolear disse...

Neuza Santos
Podemos dizer que sempre brilhamos juntas na infância e pelo reconhecimento de seu trabalho que vem sendo realizado com dedicação e perseverança , posso com a mesma certeza dizer que sua luz também veio com a mesma meta: Um mundo mais humano!
bjs da amiga eterna
Míriam